Traduzido de
Traduzido de: Schelling, F. W. Écrits Philosophiques et morceaux propres à donner une idée générale de son système. (trad. Ch. Bénard). Paris: Jourert, 1847, p. 373-374, por Marcio Miotto, sob propósitos didáticos

Sobre o experimento

[p. 373] Sem dúvida, seria impossível de penetrar a construção interior da natureza se nossa liberdade não nos permitisse colocar a mão nela.

A natureza bem age abertamente e livremente, mas ela não age isoladamente. Ela age sob influência de uma série de causas que é preciso excluir para obter um resultado puro. A natureza deve então ser forçada a agir sob certas condições que não são de modo algum ordinárias, e que não existem senão quando modificadas por outras. – A uma tal violência feita à natureza chama-se experimentação. Cada experiência é um questionamento dirigido à natureza, e à qual esta é forçada a responder, mas toda questão carrega um secreto juízo a priori. Cada experimentação merecedora desse nome é uma profecia; o próprio fato de experimentar consiste em produzir fenômenos. – O primeiro passo na ciência consiste então, ao menos na física, em que se comece a produzir os objetos dessa própria ciência.

Não podemos conhecer senão aquilo que nós mesmos produzimos. O saber, no sentido mais rigoroso do termo, é então um puro saber a priori. A construção com ajuda da experimentação não é entretanto ainda uma autoprodução dos fenômenos. E não se trata de dizer aqui [p. 374] que, na ciência da natureza, muitas coisas não podem ser conhecidas a priori por comparação, como por exemplo na teoria dos fenômenos elétricos, magnéticos ou da luz. Uma lei tão simples é reproduzida em cada fenômeno, do qual pode ser deduzida a sequência de cada pesquisa. Aqui, meu conhecimento segue imediatamente a lei conhecida, sem a intervenção de uma experiência particular. Mas de onde vem a própria lei? Eis aí a questão. Afirmamos aqui que todos os fenômenos se ligam a apenas uma lei absoluta e necessária, da qual todos eles podem ser deduzidos; numa palavra: que, na ciência da natureza, tudo o que se sabe se sabe a priori. Agora, que a experiência não conduza jamais a tal conhecimento, é evidentemente o resultado do fato de que ela não pode se elevar acima das forças da natureza as quais ela mesma usa como meio.

Sur l’idée d’une Physique spéculative.

Nota:
(O trecho destacado na edição de 1847 de Bénard faz parte da Introdução ao Projeto de um Sistema da Filosofia da Natureza ou Sobre o Conceito da Fí­sica Especulativa e a Organização interna de um Sistema desta Ciência (1799), cujo original em alemão foi traduzido em português em: Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), v. 17, n. 28, p. 257-307, 27 maio 2011.)


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